Na reta final: decisão do parto

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38 semanas

Que não sou a mesma, que está tudo diferente e agora com aquela sensação surreal de que uma vidinha sairá de mim. Sinto varios ciclos se fechando, como se realmente algo fosse acabar, me despedindo desta vida para uma outra. É estranho, é amor, é vivo e também é o luto.
Mas enfim mudamos, estamos em meio a caixas, poeira, instalando móveis mas já na nossa casa. Quartinho da Helena tá quaaase pronto faltando pouco. Há quem me chame de louca por estar tão tranquila, rs, mas é que nos bastidores eu fui aprendendo duramente a esperar, a mudança do apê estava prevista para dois meses e foram quatro e claro que eu quase surtei que agora eu tô meio avoada, parece que estou cada vez mais distante de todos e mais pertinho da Helena.
Tanto que só foi depois de me mudar que comecei a realmente pensar no parto. Talvez internamente eu ainda precisava me curar da perda do cisco e fui deixando para depois, depois e para depois. Toda minha experiência em relação a um "parto" estava relacionada a ele e eu precisava decidir, ter coragem e enfrentar esse meu medo de perder outra vez.
Ainda não tinhamos mudado quando fomos ao SAMAUMA e no nosso primeiro grupo eu e Marcio já descobrimos que era aquele espaço que tinhamos que ter cavado há mais tempo. Foi ali que minha ficha caiu e pudemos elaborar melhor a chegada da Helena. Foi de muita importancia todos os momentos que tivemos ali, parece que no meio do meu "caos" conseguimos nos organizar para pensar.
Aí veio a parte angustiante, muito angustiante. A de sair da zona de conforto juntamente com o exorcismo dos meus medos. De um lado as poucas opções que meu convênio oferecia: cobertura apenas na minha cidade e dois hospitais. O médico eu já tinha certeza e sempre tive caso optasse pelo hospitalar. Domiciliar, eu precisava pensar na equipe e estava bem em cima por conta das semanas de gestação. Meu Deus!!! Do outro aquele meu medo lá nas entranhas, doendo, sangrando. O combo da dúvida, da escolha, do receio...Me renderam bons dias de entrega a angustia. Mas eu precisava!
Chorei muito nos encontros do SAMAUMA até que minha doula querida, antes de ser minha doula me disse:
" Elisa, a cura que você quer vai ser o próprio parto. Você já sabe: é um outro bebê é uma outra gravidez" Entrei em cartase.
Então comecei a pensar e organizar quais eram meus receios e como maria la do bairro yo so devo ter chorado por todos eles, rs. Mas eu precisava, de novo. Com muita ajuda do Marcio e então da doula, agora já doula, consegui traçar meus planos.
Quando se escolhe o parto também se escolhe os riscos que ele tem, essa é a grande diferença de sair da Matrix, de se emponderar e do autoconhecimento. Quando estava na eminência de escolher o domiciliar me dei conta que algumas coisas ainda não estavam certas internamente: não era o parto, não era o medo de ser em casa, não era a equipe, mas meu medo da perda outra vez. Eu não daria conta, ter em casa ainda tem alguns fantasmas que não vieram a consciência, era uma angustia de como se tudo fosse acontecer de novo.
E a doula mais uma vez aparece e diz: "Bebes morrem. Em casa ou no hospital. Existe esta estatisca, embora não queremos falar dela. Qual é realmente o seu medo, o que impede?".
O mergulho foi profundo...E naquela semana eu teria a ultima consulta mensal e precisava conversar de fato sobre alguns dos meus receios com o médico, Marcio foi junto com a intensão de nos fortalecer, afinal a decisão do parto era nossa e isso fez muita diferença no dia da consulta.
E se for em casa e eu precisar de uma transferência?
E se for no hospital? Ha possibilidade de ser o mais natural e humanizado possível?
Qual seu limite profissional?
A conversa foi longa, nem me lembro, mas acho que ficamos quase duas horas no consultorio. Embora eu sempre confiasse no medico e na minha escolha estudada por ele, precisava de uma certeza de que estaria lá! (Em tempo, o médico está a caminho da humanização. Então, sempre soubemos que talvez algumas situações ficariam a desejar)
Saimos de lá com a paz que tanto buscávamos naquelas semanas. Sentimos que poderiamos contar com ele e com o hospital universitário da cidade, que no momento é o unico que apoia o parto natural (desde que com médico particular, plantão não tem garantia nenhuma) e para encerrar de vez nossa dúvida, fomos conhecer o hospital e ter aquela conversa dos pormenores com a assistente social.
Pode doula?
E se eu não quiser as intervenções na bebê?
Posso comer enquanto estou no quarto?
Agora o parto hospitalar me deixava mais segura e conversando com Marcio sobre essa possibilidade ao chegar em casa tivemos certeza: era tanto pó, maquina do pedreiro, caixas por todos os cantos que no auge das 37 semanas eu fiquei pensando onde seria o parto naquela casa que ainda não era casa?
E assim terminava nossa saga de onde seria a chegada da nossa Helena, conscientes que escolher um PN hospitalar significa ter algumas decepções, do riscos das bacterias mais resistentes, da acolhida da Helena não ser tão respeitosa e de ela passar por alguns procedimentos que não achamos necessarios mesmo protocolando nossas negativas, da doula não ir para o parto...

Algumas considerações da minha busca e decisão:
-Acho que a grande lição nessa busca, foi amadurecer e ir para o momento mais especial da minha vida com a cabeça aberta para o imprevisível e também o indesejável. Não idealizar demais, não colocar as expectativas lá em cima porque é tudo muito, muito, muito ímpar, na hora, intenso e sem previsão.
- Não tenho expectativas de Helena nascer na água, no banquinho, na bola, na maca...quero que ela nasça bem, na melhor posição para nós duas.
-Eu quis desistir, não uma vez...mas varias! Cansa lutar por um parto natural. Se de um lado tem todos os riscos e a insegurança do hospital o domiciliar também tem seus enfrentamentos que as vezes é a familia,  a sociedade, registrar a criança depois...Tem que ter disposição e não é facil.
-Cada mulher tem sua história e seu corpo. Pode até se parecer mas nunca um parto é igual o outro!
-Meu marido estar comigo e ser tão protagonista da escolha quanto eu foi muito importante. Na maioria das vezes quem acompanha o parto pode ser responsável por intervenções desnecessarias como bem me disse a assistente social do hospital. Se ele não sabe que um trabalho de parto pode durar horas e horas ele vai lá na enfermagem e grita que sua mulher está sentindo dores há mais de 6 horas e ninguem faz nada! Na certa rola uma ocitocina, uma analgesia mal aplicada...e já sabemos no que isso pode resultar. É muito importante esse emponderamento em conjunto de quem vai acompanhar.
-Equipe de confiança: fundamental, essencial e sem ela não dá.
-Saber o limite da sua equipe. Por exemplo, meu medico deixou bem claro que parto natural pelvico não é com ele! Deixe claro sua intensões, mas mais do que isso procure a clareza da sua equipe. O que consideram emergencias,  quem vai no lugar numa possível ausência e etc.

E enfim....
Boa sorte :)





2 comentários:

  1. Oi, Lis! Estou rezando por vocês! Que seu parto seja lindo, que você renasça e seja respeitada nesse momento tão lindo. E que a Helena (lindo nome!!!) nasça saudável. Um ótimo parto, querida!
    Beijos, Rita :)

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  2. Lis,
    Tô aqui na torcida pra que vc tenha um parto lindo, lindo!!
    Eu acredito que grande parte da força que o parto traz pra gente vem desde esse empoderamento pelo qual temos que passar pra poder parir indo tão contra o sistema, sabe?! E montar nosso planos - e estar em paz com eles - dentro das possibilidades da nossa realidade é uma parte importante desse processo!

    Será incrível, tenho certeza!!
    Que Helena venha com muita saúde e seja muito bem recebida nesse nosso louco e lindo mundo!!

    Beijos

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