Desvio da rota: uma (possível) crônica da infelicidade gratuita

Leave a Comment


Para mim, desviar da rota da felicidade  estão em dois momentos: quando você começa a medir, comparar e quando ela começa ter um valor real de reais.
Você está lá,linda no seu caminho batalhado e suado da mulher bem resolvida. Quando olha as mesmices já dá um enjôo, coisas fúteis foram deixadas no seu desmame da adolescência, o casamento entrou num ponto em que os dois já conseguem manter o equilíbrio e harmonia. PERFEITO, tudo no seu lugar até que...Chega aquela sua amiga chefe sênior da empresa top “melhor de se trabalhar no mundo” mostrando suas viagens que fez pela Europa. Você suspira toda vez que ela conta por suas passagens pelos pontos turísticos, ri e chora junto com ela das aventuras românticas mais lindas que teve. Ao final da conversa você dá aquele abraço bem apertado e antes de entrar no carro diz. “ Viu, me passa o roteiro da viagem”.
Já no meio do caminho, o coração fica um tanto apertado e você se pergunta “ ou eu sou muito tonta ou sou muito esperançosa. Quando é que vou ter dinheiro para fazer uma viagem dessas”. E a classe C sofre! E todo aquele lance de um bem maior, da felicidade Amelie Poulain acabou. Socialista o caramba, eu quero dinheiro, eu quero ir pra Paris!!! A coisa fica pior ao expressar o desejo para o marido, na esperança de ele dizer que é possível ( mesmo que lá no fundo já saiba a resposta).
-É, vamos ter que economizar no mínimo uns 4 anos
-.Como? 4 anos? Daqui esse tempo meus cabelos brancos já apareceram, eu já seria mãe...
O choro entala, mas como você é uma mulher muito bem resolvida, admirável e amável e não vai chorar por causa disso. Imagina. Para distrair  a mente entra no facebook e a vida alheia lhe dá um tapa na cara: TODOS os casais foram a Paris, tem fotos na torre Eiffel, o carro quitado, o apartamento quitado e um status que diz o seguinte “ Não tenho tempo para mais nada, ser feliz me consome  muito”.  É o fim!
Na escrivaninha esta lá seu boleto da pós que nunca acaba, seu holerite que carinhosamente você chama de umamisérieemeia, a lista de coisas a se pagar e você pensa: “ Eu tava feliz até ontem. Vou dormir”. E antes de dormir aquela lamentação mental de escolher  a profissão que não paga nada, que não deveria ter comido aquele pedaço de bolo, que o marido também podia ganhar mais... Definitivamente a felicidade é de quem tem sorte e não de quem batalha. Vida bandida.
Aí, você acorda e OPAAAAAAAAAAA!!!!!!! A vera verão adormecida  acordou junto. “Não, não vou jogar tudo pro alto por algo que simplesmente vou engavetar e um dia quem sabe abrir de novo”.  O marido percebe algo estranho e embora não toque no assunto resolve agradar pedindo a pizza mais gostosa da cidade, mesmo engordante, você não se incomoda e entende que o seu real não necessariamente são os reais que não tem. Surpreendentemente o marido também comprou um pudim de leite, que você nem gosta tanto,mas ele diz :
-Eu sei que você gosta de um docinho.
Pronto! A seta para esquerda piscando e você volta a sua rota da felicidade de hoje, da sua vida pacata, do filminho no sábado a noite que não te faz nem pior e nem melhor por ter ido a Paris. Mas sim, feliz.
Que tem pá hoje memo?

0 comentários:

Postar um comentário